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terça-feira, 11 de setembro de 2012

domingo, 15 de julho de 2012

O casaco de lã

imagem do blog: tudehistoria.blogspot.com

Nunca achei que fosse viver muito. Quando criança ouvia conversas na sala... “esta menina é muito doente...” eu achava que iria morrer. Sempre doente... Sempre magra... Cheia de complexos, de medos da vida, das pessoas, das coisas...

Tinha um amigo que se chamava Miguel... Ele tinha os olhos grandes e verdes, cabelo liso, negro, caído sobre a testa alva, parecia um anjo. Sempre aparecia quando eu estava triste.
Miguel quase nunca falava e eu também não. Não precisávamos de palavras para nos comunicar. Ficávamos lá no canto do “salão”, uma sala grande onde meus pais promoviam bailes aos sábados... Durante a semana o espaço era silencioso e às vezes sombrio.

Miguel me trazia um caderno velho, de capa dura, também trazia um lápis, colocava-o entre os meus dedos... Aos cinco anos aprendi a ler e escrever, sem nunca ter ido à escola até aquela idade.

Não fui aceita no pré-escolar, estava adiantada. Fui para a primeira série... Lá todos pareciam melhores do que eu... As meninas bonitas, com seus cabelos sedosos, enfeitados com laços... E vestidas tão lindamente, como as bonecas que um dia eu quisera ter. Não era feliz ali. Sentia um medo inexplicável.

Mas, mesmo que eu me sentisse triste, Miguel nunca me visitava na escola. E Eu nunca perguntei por quê.

Pouco me recordo de minha infância... Além de me sentir meio só... Lembro do frágil sol de inverno e do vento soprando, gelando meus dedos... E do casaco de lã... Íamos, eu e Miguel... Deitávamos no gramado do lado de casa, pra sentir o sol aquecer nossos rostos...

Sinto saudades do cheiro do casaco de lã, um cheiro ilusório... Não me lembro quando foi que perdi o olfato... Minhas reminiscências me confundem às vezes...
Também não me lembro quando foi exatamente que Miguel afastou-se de mim... ou eu dele...
Acho que cresci, e me tornei estúpida demais para acreditar em amigos imaginários.


Por Mary Paes

Conheça o meu blog de poemas http://mary-paes.blogspot.com


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Minhas impressões sobre fotografia, pessoas e banalização

                                                                 foto Thiago Gama

A fotografia nunca esteve tão em alta quanto agora. E eu acho isso muito bom! Diferente de algumas pessoas, eu discordo (em partes), da expressão de que “hoje em dia a fotografia está banalizada”, chego a pensar que quanto mais fotógrafos melhor! Isto não quer dizer que eu seja a favor de se sair por aí fotografando tudo, sem saber direito o que realmente se quer registrar.

                                                                foto Thiago Gama

Observo, no entanto, que a fotografia de hoje, está mais a serviço da sociedade do que já esteve, desde a sua invenção. Falo isso porque desenvolvi uma pesquisa sobre a história da fotografia na cidade de Macapá (2011), e esta pesquisa me levou a entender (a meu modo), que antes da suposta “banalização” da fotografia, no Brasil, os registros fotográficos serviam, quase que exclusivamente, aos meios oficiais e à elite. Esta história começa a mudar, especialmente, em terras tucujus, entre os anos de 1980 e 1990, quando as câmeras compactas tornam-se, mais acessíveis a todos os níveis da sociedade, e as fotografias ganham outros significados.


A fotografia pensada como arte ou como instrumento de comunicação visual é um meio de se questionar, conhecer e até de se transformar uma realidade. Penso que, ao se decidir fotografar, é importante trabalhar a sensibilidade e experimentar. Fotografar é antes de tudo, um ato de pensar.

                                                                    foto Thiago Gama

Mesmo dentro deste turbilhão de imagens no qual mergulhamos todos os dias, ainda identificamos aquelas imagens que realmente tem algo a nos dizer! Na minha modesta concepção, a boa fotografia é aquela que não foi feita em vão! Ela está impregnada de significados, ela fala e é capaz de ser compreendida! Saber ler uma imagem e interpretá-la é tão importante quanto ler e interpretar um texto. Sempre haverá alguém fazendo fotos que possam ser lidas e interpretadas como instrumentos de transformação.


Estas impressões minhas, a respeito da fotografia, foram reafirmadas durante a oficina de fotografia contemporânea, ministrada pela jornalista e fotógrafa paraense, Shirley Penaforte. Vivenciei, juntamente com outros amigos, cinco dias de compartilhamentos de experiências e conhecimentos relacionados ao tema, o que resultou numa rica exposição de fotovaral, na Praça Cabralzinho (em Macapá). A oficina foi realmente, bastante produtiva.

                                                                 foto: Aryella Carneiro

Penaforte trouxe para os amapaenses (inevitavelmente), o seu olhar bastante ligado ao fotojornalismo, mas de forma sensível e tocante, o que provocou em mim, um misto de emoção e admiração pelo trabalho desenvolvido por ela.

Estender o olhar para além daquilo que estamos acostumados é um exercício de percepção dos detalhes, de ver a vida por ângulos ainda não experimentados. É isto que eu chamo de fotografar.



A oficina de Fotografia Contemporânea foi realizada pela FUNARTE em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura e Museu da Imagem e do Som do Amapá.

*(não sei a autoria da última foto, então quem souber, coloca aí no comentário para que eu possa dar o devido crédito)

Por Mary Paes