Depois da palestra ministrada pelo antropólogo Luciano Magnus Araújo, na última sexta-feira, no Auditório do MIS, fiquei refletindo sobre as provocações colocadas por ele durante toda a sua apresentação.
Luciano Magnus Araújo (professor Ms.)
Provocações, argumentos, reflexões...
No contexto museológico, a pergunta sobre o que merece ser guardado no tempo soa complexa demais para alcançar uma resposta. É evidente que o objetivo da palestra não era obter respostas, mas levar o público a refletir sobre as provocações apresentadas e instigá-lo a questionar a significância daquilo que é válido ser guardado no tempo, seja material ou imaterial.
Magnus exemplificou sua colocação dizendo: “Caberia uma memória sobre a história do rádio no estado do Amapá?”, ele deixa a pergunta no ar e depois argumenta “...nós somos os agentes desse registro, dessa experiência memorialística.” Estas argumentações feitas pelo palestrante manifestava, sutilmente, sua idéia de Museu muito além do espaço Institucional, e do objeto meramente histórico. Em certo momento, ele chegou a questionar sobre qual o significado de uma escultura de um século remoto para as gerações atuais e as do futuro.
Eu entendi a provocação como uma necessidade de se estudar os significados das memórias de um objeto sob a guarda de um Museu, para que sua história traga significâncias para a geração do presente e do futuro, e não seja apenas um mero objeto guardado no tempo, do qual não se sabe a origem ou a finalidade. Se estende a isso, no meu entendimento, a necessidade de que este aprendizado, possa ser multiplicado como parte da educação de um povo. Porém, alguns dos presentes não assimilaram da mesma forma que eu, e talvez, este tenha sido o momento mais polêmico de toda a extensa retórica do antropólogo.
Infelizmente aqueles que se posicionaram contra as argumentações de Magnus, fizeram isso nos bastidores, entre poucas pessoas, deixando de compartilhar suas idéias com o público presente. Estas pessoas poderiam ter exposto seus argumentos no debate, e assim, enriquecido ainda mais a discussão. Coincidentemente, Magnus havia mencionado sobre os indivíduos que guardam seus conhecimentos e argumentações para si, deixando de contribuir com o coletivo, isso, na opinião dele, é um erro.
E coletivo foi uma das palavras-chave do palestrante: “... eu penso a força de um coletivo, irradiando idéias, conhecimentos, argumentando uns com os outros.” e fez questão de ressaltar várias vezes, a responsabilidade do jornalista na propagação do conhecimento, em documentar a história, não apenas resgatar o passado, mas principalmente registrar o presente. “... falta essa idéia de documentar a vida, o cotidiano das pessoas, aquilo que traga significados para a realidade local”. Arrematou Magnus.
Especificamente, sobre esta colocação, eu como acadêmica de jornalismo, em pesquisas acessíveis ao público geral, percebo que a história registrada caminha por um viés político. Os eventos que de algum modo tenham ou tiveram vínculos políticos ao longo do tempo, estão em maior evidência. Há poucos registros históricos sobre o que chamamos hoje de underground, ou culturas alternativas das épocas passadas. Talvez porque eram poucos os recursos técnicos, de produção e divulgação, o que obviamente, não vale como desculpa para os jornalistas atuais.
Senhor José Maria, presente na palestra, fez questão de dar seu depoimento: "Eu passei a ter uma nova visão sobre a necessidade de se preservar a memória, não só preservar, mas discutir esses processos históricos e seus significados para a realidade atual e para o futuro."
A presença do público, em sua maioria, jornalistas e acadêmicos do curso de jornalismo, contribuiu enormemente para o sucesso da palestra.
A equipe agradece.
Por Mary Paes