O colóquio de fotografia, a meu ver, funciona como uma janela aberta, por onde é possível perceber a evolução da fotografia amapaense e seus fotógrafos.
Mesmo que a identidade amazônida seja explicita na maioria dos trabalhos, há uma demonstração sutil de fuga desse contexto, principalmente nas obras de autores mais jovens. A apresentação do portfólio comentado, por exemplo, é uma sacada perfeita para os artistas da fotografia contemporânea. Neste enquadramento, a fotografia deixa de ser simplesmente arte, para dialogar com o ambiente e seus observadores.
Tomo como exemplo o portfólio da artista amapaense Jonáta Lacerda. Ela separa suas obras, apresentadas atualmente, em três momentos denominados por ela de “trabalhos em série”: “Meu Olhar Amazônico”, “Mundo Fechado”, “Dentro de Mim” (este último não tenho certeza do nome).
O primeiro apresenta um olhar impregnado de significados, exala a sensibilidade da artista que não quer deixar fugir o seu apego ao registro de belas e surprendentes imagens do seu cotidiano. Em “Dentro de mim”, que em minha opinião, é o seu melhor trabalho, o traço do real toma rumos diferentes do simples registro para transformar-se na própria voz da autora da obra. Ela interfere no objeto existente, retira-o do seu campo de origem e transporta-o para outra realidade, dando a ele um novo sentido.
O último ensaio, segundo ela própria, “é uma brincadeira de colar e misturar”, ela brinca com a sua própria imagem. Fazendo colagens com recortes de jornais e revistas, construindo ambientes imaginários, onde insere o seu rosto em personagens das mais diversas origens. A artista apodera-se de outros meios, que não o fotográfico, para transmitir a sua mensagem.
O mundo da fotografia parece simples para aqueles que a vêem superficialmente, mas o aprofundamento desta arte faz com que muito se rendam à sua graça e magia.
Por Mary Paes