quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A entrevista, o entrevistado e o entrevistador


Uma boa entrevista é aquela que termina com a satisfação tanto do entrevistado quanto do entrevistador. E para se chegar a esse denominador comum, às vezes não é fácil!
Para um programa de TV, por exemplo, a necessidade de conhecer o perfil do entrevistado, ter pesquisado suas aparições em publico, suas atitudes com relação às perguntas dirigidas à ele, é fundamental para o entrevistador não cometer nenhuma gafe. Não aceitar entrevistar alguém às escuras, sem saber nada ou quase nada a respeito do entrevistado, é evitar o que poderia se tornar um desastre!
Há vários tipos de entrevistas, entrevistados e entrevistadores. O jornalista tem que ser suficientemente inteligente para definir qual caminho ele deseja seguir com a pessoa à qual ele pretende entrevistar. Em se tratando de celebridades, o cuidado deve ser redobrado, principalmente se a entrevista for ao vivo. Mesmo que haja uma prévia para que o entrevistado tenha conhecimento do que lhe será perguntado, nunca se sabe o que se passa na cabeça de uma pessoa, por isso é bom formular bem as perguntas de acordo com o perfil do entrevistado.
Um bom exemplo de entrevista é aquela em que entrevistado e entrevistador sentem-se a vontade e a entrevista toma o rumo de um diálogo, como menciona Cremilda de Araújo Medina, em seu livro Entrevista O Diálogo Possível. É verdade que para trilhar o caminho da entrevista-diálogo, é necessário uma boa dose de talento por parte de quem está entrevistando.
Hoje em dia é comum, nos programas de tv, entrevistas explorando a desgraça alheia, o espetacularização, como fala o autor Muniz Sodré em seu Livro O Espetáculo do Grotesco. Esse tipo de entrevista, muitas vezes, explora o lado ridículo, carente, cômico ou chocante do ser humano, com doses extremas de sensacionalismo, expõe deficiências ou aberrações humanas. Esse é o tipo mais baixo de entrevista e de entrevistador, muito embora, infelizmente, alcance ótimos índices de audiência, em se tratando de programas de TV.
Ainda mencionando o texto de Cremilda em observação às críticas de Morin, as entrevistas se agrupam em duas tendências: a de especularização e a de compreensão (aprofundamento). Vale evidenciar que uma entrevista que ultrapassa a barreira de perguntas e respostas, supera expectativas e alcança o nível de aprofundamento necessários para se chegar a resultados satisfatórios tanto para quem pergunta quanto para quem responde, e o que é melhor, agrada ao público.
Nos impressos, as entrevistas seguem um rumo mais conceitual dependendo, é claro do tipo de editorial adotado pelo meio de comunicação. O perfil do leitor é que vai ditar os tipos de entrevistas que serão adotados. Nos impressos, o entrevistador dever ater-se ao que é dito pelo entrevistado, ele não pode inventar coisas que a pessoa não disse. Neste caso, há que se ter cuidado para não confundir o real com o imaginário. Muitas vezes, o entrevistador afoito, pode atropelar a realidade e deixar aflorar sua imaginação. Isso pode resultar em grandes confusões e descrédito ao meio de comunicação e ao entrevistador. Na TV também acontece do entrevistador fazer perguntas que nada tem a ver com o momento, ou inventar um assunto que possa gerar polêmica dependendo da resposta de seu entrevistado. Essas atitudes podem se tornar constrangedoras tanto para um quanto para o outro. E de repente, nem é mais o entrevistador que literalmente “viaja" na imaginação, mas o entrevistado, que começa a mentir descaradamente sobre determinados assuntos. Essas situações devem ser evitadas a qualquer custo, para não comprometer a qualidade da entrevista. Perguntas óbvias, como por exemplo, se uma vencedora de um concurso de misses está feliz com a vitória, são totalmente desnecessárias. A entrevista jornalística deve ser um espaço democrático, aberto ao debate e à obtenção de informações. Muito embora, esse espaço seja na maioria das vezes, reservado aos “poderosos da vez”, sejam estes os ídolos, frutos da indústria cultural, políticos ou os bem favorecidos economicamente.
Em alguns campos do jornalismo, a entrevista abre espaço para a investigação, esta pode ser policial ou não. A entrevista investigativa é bem mais aprofundada, requer tempo e paciência por parte do repórter. Mas, no final, pode resultar numa grande matéria e dar a ele prestígio e credibilidade, desde que tenha trabalhado por meios lícitos e apresentando a veracidade dos fatos investigados.
Existem inúmeras formas de se entrevistar alguém, ainda mais agora em que tudo é experimental. Na contemporaneidade, não há um ambiente próprio para as entrevistas, pode se entrevistar alguém dependurado em uma corda de rapel, o mais importante é o conteúdo, conhecer o entrevistado, dominar o assunto que vai ser discutido e respeitar o espaço do outro, principalmente quando esse outro se trata do público que estará vendo, ouvindo ou lendo a entrevista. Prezar pela credibilidade do meio de comunicação e de si mesmo é um bom começo para se começar a apresentar boas entrevistas.
Por Mary Paes em 09.09.09