Encontrei este assunto no blog um-blog-para-todos e achei relevante postá-lo aqui .
Em linhas gerais, podemos dizer que Mutismo Seletivo é um transtorno de ansiedade social severo e persistente de caráter genético-hereditário que se caracteriza pelo fato de que a criança acometida desta condição evita a interação através da linguagem falada ou de compartilhar de algumas atividades sociais não familiares, devido ao fato de apresentar uma ansiedade grave, possuindo, no entanto, desenvolvimento e amadurecimento de suas habilidades de linguagem e aprendizagem absolutamente normais, as quais são evidentes em ambientes onde a criança se sente cômoda e segura, comumente na companhia dos pais, irmãos ou familiares mais próximos.
O Mutismo Seletivo, no entanto, está longe de ser um aspecto de timidez excessiva. Vai muito mais além. A timidez não paralisa uma pessoa, o Mutismo Seletivo sim. Por este motivo, é imprescindível a identificação do problema e de não contundi-lo como uma timidez extrema, visto que somente desta forma a criança poderá receber a ajuda necessária.
Uma das maiores frustrações dos pais de crianças com Mutismo Seletivo é que quando procuram conselho do pediatra ou profissional de saúde mental para crianças pequenas que não falam fora de casa, normalmente costumam dizer que a criança é somente tímida, e quando começa a etapa de frequentar o jardim de infância, são informados por empregados da escola que a criança está severamente perturbada e que necessita ajuda psicológica.
As crianças com esta condição apresentam dificuldades para manter contato visual, evitam sorrir e expressar-se através de emoções faciais (em presença de estranhos), permanecem quietos fisicamente, tendem a uma maior ansiedade quando se dá a situação em que o uso da fala é esperada pelos demais, costumam se preocupar pelas coisas muito mais do que o normal, tem uma maior sensibilidade com relação ao barulho, sons estranhos e aglomerações de gente, sentem dificuldade de expressar-se de forma verbal ou não verbal quando em situações sociais estressantes, normalmente apresentam sentir mais medo das coisas consideradas normais, e demonstram, igualmente, um apego muito maior do que o normal das crianças.
Obviamente estas não são as únicas características do problema, mas são os mais significativos, ou pelo menos, os mais universais.
Sabe-se atualmente que o Mutismo Seletivo é muito mais comum que alguns outros tipos de transtornos, afetando uma média de 7 a cada mil crianças, sendo que destas, as meninas estão em uma proporção de 2:1. As razões pelas quais o Mutismo Seletivo se apresenta ainda é desconhecida, embora é sabido que o componente genético é predominante e, havendo histórico de traços temperamentais dos pais e antepassados relacionados à timidez, introversão ou ansiedade, podem promover a aparição desta limitação.
A criança muda seletiva não é, em absoluto, uma criança que deixa de falar por rebeldia ou por querer chamar a atenção. Ela não o faz simplesmente porque não pode, por uma intensa ansiedade que bloqueia esta habilidade. É preciso realçar que a criança não escolhe ficar calada em certas ocasiões, mas sente-se forçada a isso pela extrema ansiedade que vivencia, apesar de sua vontade e desejo de falar e interagir.
As crianças com Mutismo Seletivo não usam seu silêncio como uma forma de agressividade passiva, manipulação ou forma de desafiar aos demais. O Mutismo Seletivo não implica em uma decisão consciente por parte da criança, e sim algo que ela não pode controlar, dado ao caráter involuntário do problema.
A expectativa de que a criança fale, por parte dos adultos e-ou sociedade, é um fator prejudicial para o problema, visto que sendo a ansiedade a fonte e combustível desta dificuldade, qualquer situação ansiosa, estressante, agressiva ou exigente quanto à fala, não fará senão piorar a forma como a criança se sente e sua habilidade para lidar com a tamanha pressão que implica qualquer situação social. Sendo assim, ser paciente, respeitoso, compreensivo, afetuoso e manter uma atitude de apoio é sempre a melhor maneira de apoiar à criança, apoiando sua inclusão e adaptação ao entorno social do qual compartilha em plenitude, embora sem o uso da linguagem falada, respeitando e apoiando sua individualidade, o qual será a melhor forma de estimular sua tranquilidade, confiança e sentido de segurança, pois é em base a estas que a criança conseguirá reduzir e vencer, gradualmente, a ansiedade e assim, implementar o uso da fala como meio de relacionar-se em um futuro.
Por Carmem L Vilanova & Rafael Morales