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domingo, 10 de abril de 2011

VER ALÉM DO OLHAR


 Foto: Maksuel Martins

Eu particularmente, adoro o acaso... É assim que coisas muito bacanas acontecem em minha vida. E foi por acaso que ontem, sábado, três dos coordenadores do Projeto Cinemando na Amazônia no Bairro Nova Esperança informaram que não poderiam estar presentes na sessão de curtas que seria exibida durante a noite, no Centro de Convivência daquele bairro. Então fui convidada para somar a outros companheiros também convidados para o cortejo e logo depois, para a exibição dos filmes. Chegamos lá, eu, meu amigo Odivar Filho com o carro de som, e a Liliane, nossa amiga. Nisso, já passava da hora do combinado, mas apenas o Luan Macedo (um dos coordenadores do CINE MAIRI) e a Eliza (em fase de teste para ser membro do FIM) haviam chegado. Devido ao adiantado da hora, decidimos iniciar a panfletagem com pouca gente mesmo. Cada um foi para um lado entregando folders para a vizinhança do bairro. 

Seguia eu por uma das ruas esburacadas e cheia de lama, quando vi uma garotinha segura nas mãos de quem, supus ser a mãe dela. Ao me aproximar, percebi que a garota possuía deficiência visual,  ela sentiu que eu me aproximava e estendeu a mão, dei a ela um folder com a programação de filmes daquela noite até o mês de maio. Curiosa, a menina perguntou à senhora que lhe segurava a mão, do que aquilo se tratava. Eu continuei no meu percurso.

 Foto: Maksuel Martins

No horário combinado o público foi chegando. Na maioria, crianças entre 05 e 12 anos. Todos eufóricos, falando alto, rindo e fazendo mil perguntas sobre os filmes. Teve alguém que perguntou ao Alexandre: “vai passar avatar tio?”, eu achei aquilo engraçado.

 Foto: Maksuel Martins

Fiquei felicíssima ao ver que a garotinha de vestidinho rosa que estava chegando de mãos dadas a um garoto, era a mesma para a qual eu entregara o folder da programação. Acomodei-os um ao lado do outro.
Foi  assim, por acaso, que eu conheci um outro lado do meu amigo Alexandre Brito. Não é que este rapaz leva jeito com a criançada?!? Conversou com a galerinha, controlou suas euforias, argumentou com eles, interagiu de maneira muito eficaz com o público daquela noite. 

Mas o acaso que mais me deixou feliz, foi perceber que talvez eu não estivesse ali por mero acaso... E se fosse... Vivas ao acaso!

Alice é o nome da garotinha de vestido rosa. Ela tem dificuldades em entender o que está sendo exibido, pois ela não vê, e o filme não possui diálogo. Ao perceber sua agonia através das perguntas que fazia ao seu irmão, levantei-me de onde eu estava sentada e fui em direção a eles, mas me detive por recear não ser entendida em minha intenção de ajudar e assustar a garotinha. Fiquei em pé, observando a menina, enquanto na minha cabeça, duas ideias digladiavam-se entre si, vou ou não vou? O Alexandre se aproximou e disse: “Hei Heldris (apelido carinhoso), vai lá narrar o filme pra menina!” era o que eu precisava pra me decidir.  

Sentei-me no chão ao lado da cadeira de Alice e disse-lhe ao ouvido: “você quer eu que narre o filme para você?” rapidamente, ela respondeu que sim, pegou minha mão e colocou sobre o seu colo.  Foi uma experiência inesquecível! Enquanto eu narrava o filme, ela gargalhava e eu ficava mais feliz ainda, por acreditar estar conseguindo passar o que realmente estava acontecendo na tela. 
Ela me disse que estuda libras e que lê e escreve em braile.  Convidou-me para visitá-la em sua casa e conhecer sua família. Perguntou meu nome e tocou meu rosto e meus cabelos para me conhecer. Disse-me também que participa de um coral e se ofereceu para cantar lá no CINEMANDO em uma ocasião especial. 

Eu aprendi que... Às vezes, num dia só, você entende o que levaria uma vida inteira para entender!

Este sábado, 09/04/2011, valeu muito a pena ter vivido!!! 

Por Mary Paes