terça-feira, 9 de junho de 2009

Variação linguística

Será que todos têm noção da grandiosidade que é este país? Falo grandiosidade não apenas pela extensão de área, mas da pluralidade de culturas, da diversidade de raças, de pensamentos, de crenças, etc..

Falo sobre isso porque, outro dia, durante o almoço com dois profissionais da área de comunicação, um deles, à quem fui apresentada ali no restaurante - em meio ao cheiro de assados e cozidos – o assunto em pauta foi a variação lingüística, latente de ponta a ponta do Brasil (é claro!!! Depois que os dois tiraram um sarrinho básico do meu sotaque mato-grossense). Há um lado interessante, ou melhor, cômico nessa questão de diferenças na linguagem de uma região para outra, porque nem toda palavra tem o mesmo significado para todas as regiões. Posso mencionar aqui, dois, dos vários “micos” que eu e meu amigo, também de Mato Grosso, pagamos logo que chegamos aqui no Norte (Macapá, para ser mais exata), na verdade ele (o meu amigo), chegou aqui uma semana antes de mim, e nos falamos algumas vezes ao telefone enquanto eu continuava em Mato Grosso. Querendo eu me interar um pouquinho sobre a cidade, perguntava a ele sobre as comidas (sou magra de ruim! Rs), a resposta dada foi que as pessoas tinham gostos exóticos, inclusive comiam caça, principalmente paca. Bem... Já acho horrível comer carne de gado, imagine comer paca (não sou obrigada a comer paca, pensei). Quando cheguei à empresa onde trabalho, fui logo perguntando se era verdade que as pessoas aqui comiam paca. O riso foi geral, eu não entendi bulhufas! Depois que se divertiram bastante às minhas custas, alguém resolveu me dizer em que sentido a palavra “paca” estava sendo mencionada!!! Bem... Se há leitores que desconheçam a semântica da palavra “paca” neste contexto, por favor, peçam explicações a um macapaense antes de pagar os mesmos micos que eu!

Um outro “king kong” que me lembro bem, foi também na empresa, ao entrar na Copa deparei-me com um colega quieto sentado na cadeira com a cabeça encostada na parede, perguntei a ele se estava bem, ele me respondeu que estava com “tiriça” (para mim, palavra vulgar, que na linguagem culta seria icterícia). - Um bom remédio para isso é um chá de “picão” (planta silvestre, combate problemas estomacais e do fígado) ou broto de goiaba - respondi prontamente - ele riu muito, pensou que eu estivesse “de sacanagem” com ele!! E eu de novo sem entender nada perguntei o que estava acontecendo, a resposta foi que eu estava entendendo errado (havia um ruído na mensagem, rs), o que ele queria dizer é que estava com preguiça.

É claro que ele não sabia a conotação lingüística que as palavras “picão” (planta) e “tiriça” (“amarelão”, diarréia), significavam para mim!!

Já fui consagrada a “Rainha da Pagação de Mico”, não sei até quando!!! (pelo menos sou rainha de alguma coisa).

Isso é só para lembrar que há vários Brasis dentro de um Brasil, e que vale a pena, nos desprendermos dos preconceitos lingüísticos e assimilarmos outras culturas, enriquecendo o nosso repertório informacional, cientes de que o certo e o errado não existem, como bem explica Marcos Bagno, no livro intitulado “A Língua de Eulália” (novela sociolingüística), o que existe como já mencionado anteriormente, é a diferença de culturas, de linguagens, classes, crenças, raças, tudo interagindo como peças de engrenagem para o desenvolvimento cultural de um povo que constrói este país tão rico em diversidades.


Por Mary Paes